segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um dia comum

Minha realidade vai se materializando enquanto abro os olhos. Acordei. Levanto-me, vou me arrumando mecanicamente para sair de casa, é mais um dia. A balança continua me desagradando. Engulo alguma coisa sem sentir o sabor direito, escolho uma roupa aleatoriamente, e pego a chave do carro. Se encontro alguém no elevador, materializo um sorriso e um bom dia, se não encontro pra mim não faz diferença. Dentro do carro já começam as confabulações. Vou confessar que criei um outro mundo pra mim, um mundo só meu, um mundo que só existe porque eu existo, está tudo na minha cabeça. Ligo o carro e dirijo pelas ruas até a faculdade. Automático. Certas coisas na vida acabam se tornando automáticas. Tenho aproximadamente 45 minutos no meu mundo até chegar à faculdade. Situações. Eu não sei se isso só acontece comigo, mas eu estou sempre imaginando situações, situações de todos os tipos. Não é que eu goste disso sempre, veja bem, certas situações são bem dolorosas de se imaginar. Mas eu não consigo evitar isso, é uma coisa enraizada em mim. Estou sozinha num mundo cheio de ilusões e certos perigos. Sim, perigos. Confabular demais pode ser um veneno pro sonhador. Algumas idéias podem não sair da sua cabeça depois, e você pode começar a confundir o que é real com o que é imaginário. No meu mundo pode existir de tudo, mesmo que eu não queira. Riqueza, viagens, magia, pessoas, amizades, amores, corações partidos, cartas, bilhetes, brigas, lágrimas, sexo, sorrisos, suicídio, culinária, livros, entorpecentes, festas, etc. Penso no passado, em como eu poderia ter mudado certas coisas, em como meu presente existe por conta de algumas decisões tomadas anteriormente. Eu não aconselho ninguém a ficar pensando no passado, isso pode ser doloroso. Saio das sombras do passado, tento contemplar o meu futuro. Vejo-me mais bonita, feliz, com amigos, uma pessoa realizada que tem quase tudo o que quer. Chega! O futuro é totalmente dependente do presente, preciso cuidar do meu presente. Aos poucos vou voltando a realidade. Estaciono o carro, vou pra minha aula sentindo um pouco de nojo de como o mundo é na realidade. Falo com algumas pessoas, sento, e o tédio já vai se infiltrando em mim. Às vezes presto atenção em tudo, às vezes me perco no meu mundo, às vezes sou só um robozinho. Sem grandes acontecimentos, o dia vai se arrastando. Eu estou sozinha e não estou, isso é bom e ruim. Final da tarde, volto pra casa automaticamente, claro. Um banho, um banho não é o suficiente pra limpar minha vida e fazer com que ela recomece. Como alguma coisa, na verdade eu engulo várias coisas como se isso fosse preencher o que falta em mim. Enjôo. Depois de me encher de comida sempre vem aquela vontade de vomitar. Vontade que ainda insisto em reprimir porque sei que “colocar tudo pra fora” não vai mudar quem eu sou. Tomo umas doses de Internet, penso em amor, e a cama me espera. Gosto de ler antes de dormir, isso me faz pensar em um mundo diferente. Encosto o rosto no travesseiro. Amanhã começa tudo de novo, eu sei. Nesse momento eu penso se eu prefiro estar acordada ou dormindo. Eu me entrego a mais uma noite de sono.

M.A.L.L.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sinto falta


Grite comigo. Grite até eu não ouvir mais nada.
Me dê um tapa, arranque meus cabelos, mas me diga que não é verdade.
Me diga que as lágrimas que estão queimando meu rosto não deveriam existir.
Me diga que esta dor de cabeça, que não me deixa enxergar direito, vai passar e que eu vou te sentir de novo.
A única vontade que eu sinto agora é de gritar, gritar bem muito até perder a voz e minha garganta sangrar.
Porque eu sinto a tua falta. Sinto falta das nossas conversas, de você me chingando. Sinto falta de você me dizendo que eu não prestava, e logo em seguida dizia “eu te amo”.
Sinto falta do teu nariz grande e da tua boca vermelha. Sinto falta da tua pele pálida e do teu cabelo preto que eu nunca pude tocar.
Sinto falta do teu cheiro que eu nunca senti. Sinto falta da nossa amizade que existiu.
Lembro de quando você me fez acreditar que estava mal, só pra saber o quanto eu me importava contigo.  Lembro de quando a gente conversava sobre quem tinha os gatos mais bonitos e sobre as pessoas idiotas que maltratam os animais.
Eu escrevo para aliviar a minha dor.
Minha cabeça vai explodir, mas você não vai voltar.
Sinto por aqueles que não te conheceram como eu te conheci, que não riram com você como eu ri. Porque eu sei que você era mais amigo do que muitas pessoas que estão perto de mim.
Meu amigo, meu amigo esquisito, meu amigo lindo...
Um dia a gente ainda vai se encontrar. Vou te beijar, e eu nunca mais perderei você.


M.A.L.L.





[Guilherme Vicente Pazinatto. Um querido amigo que se foi. Sinto falta.]

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