sábado, 30 de abril de 2011

Essa noite


Essa noite eu vou passar sem você, como todas as outras noites que já tive. O que muda agora é que a tua ausência no travesseiro ao lado deixa minha cama tão fria, tão deserta, tão dura. E não há nada que eu possa fazer pra ter você aqui comigo. Essa noite eu não queria beijos e amassos, eu só queria você no meu colo. Isso é tão simples, tão simples que muitas pessoas não conseguem entender. Eu escrevo porque é a única forma de te ter comigo. Tento guardar o que resta de você em mim antes que teu rosto se apague, e só me reste a incerteza de que já tive você nos meus braços. Você passaria mais um dia comigo? Suspiraria no meu ouvido uma última noite? Eu luto contra minha mente pra não esquecer você sorrindo. Volta pra mim, nossos beijos estão indo pro meu baú de ilusões.

M.A.L.L.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Encontro Casual


Ela veio me ver essa noite. Eu já estava com saudades dos olhos tristes da Sra.L. Ela apareceu como quando costumava me ver quando estava inundada de dor, nua. Como de costume veio cheia de interrogações e teorias sobre a vida. Ela não precisou falar porque veio me ver, essa desgraçada só aparece quando nem sua solidão a suporta mais. Ela mordia o lábio inferior, e antes que falasse alguma coisa eu já estava despejando meu ácido sobre ela, sobre seu corpinho nu. Sou venenoso, sou cruel, sou verdadeiro. Não a deixei dizer qualquer palavra, e já fui apontando e rindo dos seus defeitos. Cabelo esquisito, curvas fracas, olhos tristes, seios sem graça, gordura localizada, traços comuns. Ela tremeu os lábios, e se foi com lágrimas escorrendo pela pele macia. A Sra.L tem muitos defeitos, mas certamente o pior deles é ter coração.

Ass: Sr.E

M.A.L.L

domingo, 24 de abril de 2011

Sem Tempo


Eu me olho no espelho, e não sei o que eu sou. Nem eu me entendo completamente. Vontade de chorar até me desmanchar, mas minha enxaqueca já me causa dor suficiente. Mordo os lábios e tento recordar meus passos, meus erros. Fecho os olhos, e não consigo lembrar como tudo aconteceu. Isso é estranho porque eu não estava drogada ou bêbada, era apenas eu.  Eu sei que eu tenho esse lado masoquista, eu sei que eu tenho que controlá-lo para não provocar minha autodestruição. Eu quis vê-lo, isso já faz de mim uma estúpida. Eu quis vê-lo não sei exatamente porque, mas eu quis e fiz isso. E agora eu não consigo distinguir meus próprios sentimentos. Não é só uma sensação de tristeza, é mais que isso. É uma dor, como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado, mas não sei que pedaço é esse. O Sr.T é só um safado, ele tocou minhas pernas só pra ver o desejo em meus olhos. Ele mordeu minhas coxas, e eu queria beijá-lo. Nada feito. Comecei a vê-lo de outra forma, de um jeito mais objetivo. O que eu poderia ser para o Sr.T é a questão. Uma garotinha, uma safada, mais uma diversão. Não gosto de me ver dessa forma, mas prefiro parar de fantasiar. É isso, e ninguém nunca disse que não era, por isso não posso culpar ninguém a não ser eu mesma por ser uma cretina. Não sou o amor nem a amante, seria uma amiga? Acho que não, devo ser uma fantasia divertida, ou nada. Por que eu deveria ser alguma coisa? Por que eu deveria me importar? Cretina. Ele me abraçou antes de ir, um abraço rápido como se a gente tivesse acabado de se conhecer. O Sr.T parece meio perdido, espero que encontre o caminho. Vou tentar não pensar nele. Talvez a gente se fale de novo, talvez nossos corpos se encontrem de novo, ou não. O que eu sei agora é que eu vou cuidar de mim, cuidar para não ficar perdida no tempo, no Sr. Tempo.

M.A.L.L

sábado, 23 de abril de 2011

Sra.L

Ela não era feia. Ela não era alta nem baixa, nem gorda nem magra. Deveria ser normal, mas não era.
Acho que o problema estava nos olhos. Para tentar explicar vou voltar uns anos no tempo. Conheci a Sra.L quando seu corpo ainda era bem infantil, quando as pessoas pouco a notavam, quando ela ainda não tinha me conhecido de verdade. Pode me chamar de Sr.E, um sádico, um frio, um sincero.
O problema estava nos olhos, seus olhos envelheceram muito rápido. Era míope apenas pro resto do mundo, para si guardou toda a dor e a crueldade que poderia ter. Lembro do dia que ela me percebeu, deveria ter uns 7 anos, cabelos enrolados, lábios pequenos, olhinhos felizes, ela se achava bonita.
Nosso segundo encontro se deu mais ou menos um ano depois da primeira vista. Ela já não me parecia criança apesar da idade e do corpo infantil. Ela chorava, “descobriu” que não era bonita nem seria igual às outras garotinhas. Ela começou a me visitar com certa freqüência, geralmente ela nada dizia, só ficava me olhando com seus olhos tristes quase que implorando que eu fizesse alguma coisa. Eu sempre mostrei o que havia de pior.
Os anos se passaram rápido, e seu corpo adquiriu umas poucas curvas. Ela nunca me pareceu uma pessoa ruim, ela só precisava de alguém que gostasse dela de verdade. Mas, ela nunca conseguiu se expressar direito, e sempre acabava passando a imagem da sua esquisitice. Passou a desconfiar de qualquer olhar ou qualquer sorriso dos outros, era sua única defesa.
Uma coisa engraçada é que muitas vezes ela preferia nenhum elogio, bastava um sorriso sincero pra que ela se entregasse. Apesar de seus desejos, quando alguém falava em seu ouvido que era linda ou algo do tipo, isso não aumentava seu ego, apenas confirmava que era mais alguém querendo usá-la. Não sei por que ela sorria e continuava a farsa, acho que ela sempre queria saber onde as coisas iam parar mesmo que fossem ruins. Porque ela me disse que a vida parecia muito tediosa, ou ela inventava algum atrativo ou se tornaria um vegetal.
Quanto mais normal ela tentava ser, pior ficava. Ela era um desastre.

M.A.L.L.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sr. T


Parte I - Stella

Stella, você vem sempre aqui?
Meus lábios nos dela. Lábios duros, gelados, doces e amargos.
Continuei dançando, a música me atravessando como raios gama. Uma célula, setenta, setecentas mil, milhões... Excitadas. A miopia, intencional amiga da noite, não me deixa manter o foco em nada. Só vejo clarões que surgem e se apagam nos corpos. Assim todos ficam iguais, só mudam a cor. 
O mestre não parava de jogar seus comandos. Ele me olhava com cara de “don’t stop dancing”. Robô, ferro, combustível. 
Stella, você de novo? Eu não estou ouvindo, você me deixa surda.
Percebi uma respiração no meu pescoço, eu não estava só. Você também é Stella? Então aqueles lábios quentes e macios tomaram os meus. Eu não quis saber quem era, não quis saber mais de nada. O que tem no teu corpo que eu não consigo ficar longe? Pólo positivo e pólo negativo. Eu não quero quebrar isso.
"I wanna know your name. You just killed me…"
Já estava entorpecida naquele perfume, meus lábios roçaram delicadamente a orelha dele. A única delicadeza. Eu quero te morder.  Você roubou meu corpo de mim, e agora está roubando meus pensamentos também. 
Não era Stella, mas ela riu de mim.

Parte II - Louca

Meu quarto foi se materializando enquanto meu hálito me sufocava.
Eu não sei o que aconteceu, não sei o que está acontecendo. Eu imaginei tudo? Porque eu só sinto teu corpo no meu quando eu fecho os olhos, e tua voz já é um suspiro distante. Onde estão aquelas mãos que me afagaram até o amanhecer? Então percebi um vazio no meu pescoço.
“Não, você ainda usava o colar quando partiu”
Não foi uma desculpa para ouvi-lo, mas adorei aquela voz que foi me invadindo e aquecendo meu corpo. Foi até engraçado e gostoso perceber meu peito subindo e descendo enquanto eu respirava. Desliguei.
Depois encontrei o colar. Apenas um detalhe.
E eu já estava fantasiando de novo...
“Porque eu quero maçãs, e quero as melhores... e você precisa me dar a terra para que eu plante a macieira.”
Louca.

Parte III - Tragédia

“Deixe isso se prolongar até eu me desfazer em suspiros, ou acabe de uma vez para que suspiremos juntos, porque até o último segundo que antecede meu corpo no teu, eu sou torturada pelo delicioso e doloroso frio na barriga.”
Na doçura daqueles lábios não sei se encontrei apenas o desejo, mas então eu já não conseguia pensar, eu me entreguei e me desmanchei no calor daquele corpo.
Nos olhos dele eu via arder aquele desejo de me ter, meu corpo frágil já implorava para que ele parasse de me "ver com os olhos". “Me olhe com  as mãos, lábios, língua...”
Ele dormiu em meus braços, seus lábios em meu seio direito. Meu coração batia como se fosse uma música. Eu não queria dormir, queria ficar olhando seu peito subindo e descendo, passando meus dedos nos seus cabelos pretos porque eu sabia que quando o sol estivesse alto aquilo iria acabar. Fechei os olhos e dormi sabendo que não iria querer me levantar depois.
“A gente precisa ir.”
“Tudo bem.” Meus olhos me traiam enquanto eu puxava o lençol vermelho.
Mais beijos, mais toques, mais corpo.
E com um toque delicado dos lábios eu me despedi. No fundo eu sabia que não veria mais o Sr.T.
Adeus, Sr. Teste, Tesão, Tentação, Torpor, Tragédia.

M.A.L.L.