sábado, 23 de abril de 2011

Sra.L

Ela não era feia. Ela não era alta nem baixa, nem gorda nem magra. Deveria ser normal, mas não era.
Acho que o problema estava nos olhos. Para tentar explicar vou voltar uns anos no tempo. Conheci a Sra.L quando seu corpo ainda era bem infantil, quando as pessoas pouco a notavam, quando ela ainda não tinha me conhecido de verdade. Pode me chamar de Sr.E, um sádico, um frio, um sincero.
O problema estava nos olhos, seus olhos envelheceram muito rápido. Era míope apenas pro resto do mundo, para si guardou toda a dor e a crueldade que poderia ter. Lembro do dia que ela me percebeu, deveria ter uns 7 anos, cabelos enrolados, lábios pequenos, olhinhos felizes, ela se achava bonita.
Nosso segundo encontro se deu mais ou menos um ano depois da primeira vista. Ela já não me parecia criança apesar da idade e do corpo infantil. Ela chorava, “descobriu” que não era bonita nem seria igual às outras garotinhas. Ela começou a me visitar com certa freqüência, geralmente ela nada dizia, só ficava me olhando com seus olhos tristes quase que implorando que eu fizesse alguma coisa. Eu sempre mostrei o que havia de pior.
Os anos se passaram rápido, e seu corpo adquiriu umas poucas curvas. Ela nunca me pareceu uma pessoa ruim, ela só precisava de alguém que gostasse dela de verdade. Mas, ela nunca conseguiu se expressar direito, e sempre acabava passando a imagem da sua esquisitice. Passou a desconfiar de qualquer olhar ou qualquer sorriso dos outros, era sua única defesa.
Uma coisa engraçada é que muitas vezes ela preferia nenhum elogio, bastava um sorriso sincero pra que ela se entregasse. Apesar de seus desejos, quando alguém falava em seu ouvido que era linda ou algo do tipo, isso não aumentava seu ego, apenas confirmava que era mais alguém querendo usá-la. Não sei por que ela sorria e continuava a farsa, acho que ela sempre queria saber onde as coisas iam parar mesmo que fossem ruins. Porque ela me disse que a vida parecia muito tediosa, ou ela inventava algum atrativo ou se tornaria um vegetal.
Quanto mais normal ela tentava ser, pior ficava. Ela era um desastre.

M.A.L.L.

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