terça-feira, 20 de setembro de 2011

Contrato


Eu resisti, eu tomei os cuidados de praxe. As regras são simples e claras: Não se envolver. Não se entregar... E eu fiz o favor de quebrá-las. Estou sem fala, sem voz... Você levou tudo embora quando tomou de volta o carinho que tinha me dado. Como poderemos consertar isso se você quebrou? Isso não me parece justo. Mas não tinha nada disso no nosso contrato, então quem aqui pode reclamar de alguma coisa? Eu não vi arco-íris, eu não vi borboletas, eu não senti cheiro de rosas pela manhã, eu não senti porra nenhuma além desse frio que agora me toma. Onde está a maldita cláusula que não permite você me deixar assim? Querido, você desistiu da gente por tão pouco... E se tão pouco te importa tanto, como poderia você lidar com os meus sentimentos? Acabou? Não temos tempo para arrependimentos, não se muda o que já aconteceu, e é tão difícil voltar atrás porque não se apagam as marcas e os olhos vermelhos. Cansei desse “jogo” de criar complicações. Isso não é um ultimato ou um pedido de qualquer coisa, é apenas um desabafo de alguém que não leu as entrelinhas. 

M.A.L.L.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Afogada


Ele brincou e brincou até se saciar. Beijava meus lábios, suspirava em cima de mim e ainda me chamava de “amor”.
Era assim, sempre que ele sentia vontade, ele me ligava com a maior cara de pau com um “quero te ver”, e eu tão debilmente aceitava aquela condição e “encontrava” o rapaz. Ele não tinha nada de mais, nada que o deixasse muito interessante ou despertasse verdadeiramente o desejo, mas eu não nego que mesmo assim eu gostava dele e ficava feliz com seus convites para me usar. Certamente eu era a idiota perfeita. No fundo eu sabia que aquilo nunca ia dar certo, que eu não teria nada além de corpo vindo dele, o que era pouco demais para mim.
Depois de um tempo eu pude perceber que tudo que eu gostava nele, eu mesma tinha criado. Eu inventei que eu gostava do seu cheiro, do seu corpo, do jeito que me pegava... E depois que eu anulei toda essa fantasia não sobrou nada que me segurasse, que me fizesse desejar estar com ele.
No lugar de dar amor eu resolvi guardar amor pra mim. Só assim eu pude entender que quando você se sente muito só, você é uma presa fácil e pode se envolver com alguém porque tem medo de ficar sozinho, e acabar permitindo que gente qualquer entre na sua vida e te afogue com ilusões.

M.A.L.L.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Lençóis


Na sua cama, nos seus lençóis, ela rolava de um lado para outro tentando apagar de novo. Uma lágrima escorreu e ela abriu os olhos. A claridade invadia incomodando-a de todas as formas. Ela abafou um grito no travesseiro e olhou pra cama vazia, tão vazia quanto o que tinha dentro dela, o que não tinha dentro dela. Faltava algo, aliás, várias coisas estavam faltando nela, ela sabia disso, mas não fazia a mínima ideia de como mudar essa situação. Acordava com uma angústia crescente que doía sua garganta, lutava pra se levantar porque não podia simplesmente jogar tudo pro ar e apagar. 
Jogou-se embaixo do chuveiro e deixou as lágrimas se misturarem com a água que escorria pelo seu corpo. Sentia-se totalmente perdida, não conseguia entender o que diabos estava fazendo no mundo ou como estava levando sua vidinha.
E era assim, dia após dia, com esse sentimento esquisito e duvidando se realmente estava viva. Criava situações, como se sua vida pudesse ser uma novela. Envolvia-se com o que não devia, buscava amores, afogava-se em álcool, respirava fumaça, caçava aventurazinhas. Masoquista. Ela nunca pediu que ninguém a entendesse, estava muito away para coisas entediantes. Ela só queria sentir a vida de novo pulsando dentro do seu corpo como não sentia há muito tempo. Não digo que ela fazia certo ou errado, era apenas o que ela tinha. Muitos nunca poderão entender que essa dor que ela trazia para si era a única forma de ter certeza que estava viva.

M.A.L.L.

sábado, 3 de setembro de 2011

Cartas e cigarros


Ela esperou ele ligar. Apertou-se no seu vestido mais bonito, calçou os scarpins e passou o batom vermelho nos lábios. Lia as cartas dele cheia de amor no peito. Isso era pouca dor, então colocou a música deles pra tocar, e ficou relembrando os momentos nos quais estiveram juntos. Ela sabia que o jogo já havia terminado, entendia que para ele ela não tinha mais graça. Mesmo assim, ela ficava se culpando, tentando ver onde errou como se pudesse mudar aquela situação. Ela acendia um cigarro atrás do outro, depois jogava as pontas no chão do seu quarto. Ele deve ter se divertido falando de amor, como se entendesse alguma coisa sobre isso. Ela sabia que tinha sido enganada, mas não conseguia parar de desejar que ele ligasse e mudasse sua vida de novo. Só quem podia ver a sua dor era o seu espelho. Estava bonita, maquiada pra enganar quem tentasse enxergar por trás daqueles olhos cansados. Largou as cartas, desligou o som, jogou o celular num canto, e saiu pra noite pronta pra fingir que estava tudo bem. 

M.A.L.L.